sexta-feira, 26 de junho de 2015

Caminho Sanabrês: 30-05 (3ª Etapa, Granja de Moreruela-Tábara, 25,8 km)

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Dei inicio à jornada às 06h50 da manhã! Em solitário, dei os primeiros passos desde o albergue em direção às 2 placas que informam os peregrinos sobre a bifurcação com o Caminho Sanabrês, ou seja, quem pretenda continuar pela Via da Prata segue em direção a Astorga e quem quer optar pelo Caminho Sanabrês seguirá na direção de Puebla de Sanabria e de Ourense! A sinalética é muito clara, sem qualquer possibilidade de duvida ou de engano e encontra-se localizada na frontaria da igreja de Granja de Moreruela (foto 1) e na parte de trás do referido templo (foto 2)! Depois de passado o desvio para o Mosteiro de S. Maria de Moreruela, avistei os primeiros peregrinos da manhã, precisamente aqueles que tinha saído mais cedo do albergue. Cumprimentei a Zelinda, a peregrina italiana de Brescia e recordei inevitavelmente o episódio da véspera! Continuei na minha passada à medida que ía passando por outros peregrinos e desejando-lhes Bom Caminho! No caminho descendente de acesso à estrada que conduzia à ponte Quintos (foto 5) passaram por mim os 2 bicigrinos italianos que comigo na véspera tinham partilhado a mesa do jantar! Um deles saudou-me de forma efusiva com um "viva Portugal!" e eu respondi "viva Itália!".
 
Depois de atravessar a bonita ponte Quintos, o Caminho de Santiago ocorre por um magnífico e tranquilo trilho de pé posto ao lado do rio Esla. Este trilho culmina num miradouro altaneiro sobre uma espécie de Portas de Ródão lá do sitio (foto 7). Elegi de imediato este troço como o mais bonito desde Zamora! Parei por breves momentos antes da enorme reta que conduzia a Faramontanos de Tábara. Nesta localidade parei, às 11h00, para comer, descansar e carimbar a credencial! Às 12h57 cheguei à igreja de Santa Maria em Tábara! Carimbei a credencial e pedi informações sobre a localização do albergue, que ficava mesmo na saída da localidade! À saída da igreja tive uma agradável surpresa: reencontrei o meu companheiro que deixara em Riego del Camino por causa das dores no pé direito! Contou-me que, após aconselhamento médico, decidiu vir de transporte até Tábara, descansar 1 dia para retomar o Caminho em melhores condições físicas! No caminho para o albergue comprou um bastão articulado num pequeno mercado que havia em Tábara! Despedi-mo-nos com um "até já", contudo, não voltei a reencontra-lo! Enquanto caminhava para o albergue saciei a sede, refresquei-me numa fonte de água fresquíssima e enchi as minhas garrafas. À chegada ao albergue e num primeiro contacto com o hospitaleiro, de seu nome Almeida, percebi de imediato que ali se "respirava" o espirito do Caminho! Cama, jantar comunitário, roupa lavada e pequeno-almoço = donativo! Após o banho notei que tinha agora, na planta de cada pé, uma espécie de bolha! Restava-me continuar a proteger ambos os locais! A farmácia de Tábara estava fechada, mas ainda tinha no meu kit de primeiros socorros alguns pensos de silicone.
 
Após as compras da praxe passei por 1 ou 2 bares de Tábara para umas canecas de "canha" (a 1 euro cada, fiquei admirado por ser tão barato, creio nunca ter pago tão barato em outros Caminhos...)! Às 20h00 foi servido, com a colaboração de todos os peregrinos presentes, o jantar comunitário, confecionado pelo admirável hospitaleiro Almeida! A ementa foi composta por sopa, arroz à zamorana com morcela, fruta e um xupito caseiro! Creio que no total deveríamos ser uns 12 peregrinos, reconheci alguns, o alemão Stefan, os franceses Patric, Ives e Cristiane, a italiana Zelinda, a alemã Sophie e seu companheiro Abdulah, depois estava um casal de peregrinos que pareceram ser norte americanos e um outro casal de bicigrinos franceses! Enquanto decorreu a tranquila "cena" comunitária partilhámos algumas vivências do Caminho! O Almeida disse-nos que decidiu tornar-se hospitaleiro em casa própria por achar que o Caminho estava a começar a perder muito do seu espirito genuíno  e a entrar por uma vertente muito de negócio e de dinheiro (como estás certo amigo Almeida!). No final do repasto ofereceu-nos um medalhão em madeira com os dizeres "Ultreia Tábara" e com a seta amarela (foto 10), e cada um retirou de uma caixa, um cartão com uma passagem alusiva ao Caminho (todas da autoria do Almeida) que cada um teria que ler para todos! Deixo-vos com a passagem que a mim me calhou em sorte:
 
"Si te decides a dejar el
lastre que llevas encima,
podrás caminar com más
agilidad."
(Almeida)
 
Trad. "Se te decides a deixar o
          peso que levas em cima,
          poderás caminhar com mais
          agilidade."
          (Almeida)



quinta-feira, 25 de junho de 2015

Caminho Sanabrês: 29-05 (2ª Etapa, Montamarta-Granja de Moreruela, 22,6 km)

 
 
 
 
 
A alvorada foi às 06h00. O 1º peregrino que se levantou funcionou como despertador para os restantes! Entre higiene matinal, arrumar a mochila e pequeno-almoço, o reinicio do Caminho ocorreu pelas 07h10! A parte inicial da etapa fi-la na companhia de um simpático peregrino que me pareceu ser espanhol, mas que falava muito bem alemão (nunca tive oportunidade para lhe perguntar mais pormenores...), baixámos a Montamarta pela N-630 para entrarmos no Caminho na Plaza Mayor. Percebemos de imediato que estávamos no trajeto certo ao olharmos para um marco da Via da Prata! Ao sair da povoação tomámos a direção da Ermida de S. Maria del Castillo, cruzando um braço do Embalse de Ricobayo que, felizmente, nos deu passagem por se encontrar com menos água nesta altura do ano. 4 km depois de Montamarta e um pouco antes das ruínas de Castrotorafe, surgiu o primeiro contratempo muito por culpa da confusa sinalização do desvio ao Caminho, em virtude das obras da Autovia de la Plata! Entre o ir para a frente e voltar para trás, creio que devemos ter feito mais 2 km em relação ao total da etapa. A sinalização não é clara e cria duvidas constantes nos peregrinos, contudo, mais tarde viemos a saber que poderíamos ter continuado em frente sem necessidade de retomar o caminho anterior, só que, na duvida, manda o bom senso retornar à última seta/marco! 
 
Já junto às ruínas de Castrotorafe cruzei-me com mais alguns peregrinos alemães e franceses, parei para tirar fotos e para esperar pelo meu companheiro que vinha com dores num pé, que se estavam a agravar! Mesmo em estado de degradação, dava para perceber que esta antiga cidade medieval fortificada teria sido imponente noutros tempos! Foi habitada entre os séculos XII e XVIII, sendo Castrotorafe conhecida pelo nome de "Zamora-a-Velha". Em Riego del Camino, a 6,5 km de Granja de Moreruela, parámos num bar para retemperar forças! O meu companheiro de jornada decidiu ficar por ali e procurar um médico por causa das fortes dores no pé, suspeitava que fosse uma tendinite! Continuei em solitário até Granja e só na entrada desta povoação me voltei a cruzar com um casal de peregrinos da Europa do Norte (não consegui identificar de que país...). Às 13h50 fiz o registo no albergue, efetuado no bar Teleclub (5 euros). Após o banho percebi com grande espanto meu, que tinha uma principio de bolha na planta do pé esquerdo! Fiquei bastante surpreso, pois há muitos anos que não fazia uma! Posto isto havia que tomar precauções e proteger o local afetado!
 
Destas primeiras 2 etapas ainda na Via da Prata, fica o registo dos imensos e intermináveis estradões de terra batida em linha reta, pelo que, tirando os monumentos em Zamora e as ruínas de Castrotorafe, nada mais digno de registo! Enquanto descansava no albergue recebi um telefonema do meu amigo Leonel Gomes e do meu cunhado António Delfino, para saberem novidades e desejarem continuação de Bom Caminho! Durante a tarde tempo ainda para fazer compras, lavar e secar roupa, carregar a pilha da minha lanterna e uma ida até ao bar Teleclub para umas "canhas" retemperadoras! Nota de registo para o aumento de peregrinos muito por força de Granja de Moreruela ser o ponto de confluência com o Caminho Sanabrês! (o albergue acabou por encher, motivando algumas cenas desagradáveis como contarei mais adiante...) Jantei no bar teleclub, na companhia de 2 simpáticos bicigrinos italianos, menu por 9 euros! Estava com muito mais apetite do que na véspera, daí que tivesse comido tudo sem hesitações!
 
Como mais acima já adiantei, depois do jantar e quando recolhíamos ao albergue ocorreu uma daquelas cenas sempre desagradáveis e perfeitamente evitáveis, ou seja e como disse anteriormente, o albergue acabou por encher, muito por força de um grupo de peregrinos que chegou mais tarde vindos de Zamora e já com muitos kms nesse dia! Uma das peregrinas desse grupo, italiana de Brescia, de seu nome Zelinda (e que viria a tornar-se numa das melhores amizades que fiz neste Caminho....), não foi ao bar Teleclub registar-se para o albergue e, supostamente, terá ocultado essa situação à hospitaleira! Conclusão, estava a dormir no solo sem, beliche! A hospitaleira apercebeu-se da situação e travou-se de razões  com esta peregrina! Foi o granel geral! Todos ficámos com a nítida sensação de que a hospitaleira, pese embora a razão estivesse do seu lado, se excedeu nos modos como se dirigiu à peregrina italiana! Quem é sensível ao Caminho e ao dia-a-dia do peregrino, deveria ter tido o "encaixe de cintura" suficiente para compreender, que uma peregrina que já vinha de Sevilha e que naquela jornada tinha andando mais de 40 km, ao ser confrontada com a situação de um albergue completo, já não teria forças mentais nem físicas para ter que continuar a procurar alojamento alternativo (até pelo adiantar da hora...), infelizmente esta hospitaleira não teve o bom senso necessário! Reafirmo que a peregrina também deveria ter dito a verdade, mas acredito (e acreditaram os demais peregrinos presentes...) que o fez sem qualquer intenção, apenas e tão são, porque, pelos motivos já relatados, não tinha condições para discernir mais claramente! Bom...no fim de toda esta discussão e depois de muita "negociação" mediada por alguns dos peregrinos presentes, a dita hospitaleira lá cedeu e permitiu que a peregrina italiana ficasse no albergue, bem como um outro casal de peregrinos para quem também já não haveria lugar nos beliches! Ânimos mais calmos, foi tudo dormir, pois o Caminho continuava ao romper da aurora!


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Caminho Sanabrês: 28-05 (1ª Etapa: Zamora-Montamarta, 18,5 km)

 
 
 
 
 
 
 
Ao final do dia 27 de Maio parti de casa, em Nisa, em direção a Vila Velha de Ródão, para iniciar a viagem de ligação a Zamora. Às 19h49 apanhei o comboio IC que faz a ligação entre a Covilhã e Lisboa. Saí no Entroncamento, pouco depois das 21h00 e, enquanto aguardava pelo comboio Trenhotel Sudexpress, jantei no bar da estação, bifanas e fruta que trouxera de casa e uma imperial que pedi no bar! Assisti à parte final da Liga Europa, que o Sevilha venceu o Dnipro por 3-2.
 
Às 22h24 chegou o Sudexpress que me levou até Medina del Campo (a seguir a Salamanca). A viagem decorreu com normalidade e sem atrasos, deu para cochilar, sem ser um sono muito profundo em virtude de ter que o fazer sentado! Cheguei a Medina del Campo às 05h45 (hora espanhola)! Como a ligação para Zamora seria só às 08h27, aproveitei para fazer alguma higiene no WC da estação e para descansar um pouco mais num banco perto da zona da bilheteira! O sono voltou não ser nada profundo, porque entretanto começaram a chegar passageiros e também porque num outro banco próximo do meu tinha um companheiro de dormida que ressonava efusivamente! À hora marcada chegou o comboio Alvia que me levaria até Zamora! A entrada para a carruagem 18 foi um pouco atribulada, porque era um comboio enorme e com a identificação das carruagens um pouco confusa, mas com o auxilio do que me pareceu ser o "pica" lá consegui ir para o lugar que me estava destinado! A viagem foi muito tranquila e durou 45 minutos sem que ninguém  me tivesse pedido o bilhete (?).
 
Pelas 09h15 e logo à saída do comboio, tirei a primeira fotografia! Foi muito fácil chegar à Plaza Mayor (local de inicio do Caminho em Zamora), até porque tinha feito o "trabalho de casa" sacando o itinerário da internet! Na rotunda junto à estação apanha-se uma avenida de frente e é sempre a direito até à Plaza Mayor! Deu logo para ver que a temperatura iria estar bastante amena, pelo que fiz uma breve pausa para tirar a sweat de manga comprida e colocar o chapéu! Chegado ao meu destino, contemplei a Praça e o Ayuntamiento, tirando algumas fotos! Pouco depois segui até à catedral para colocar o 1º carimbo! Estava a começar uma visita guiada ao museu! Tirei mais fotos, uma das quais ao rio Douro, que se vislumbrava em grande plano, um pouco mais abaixo da catedral! Não pude ficar indiferente à imponência das igrejas de S. Juan Batista, de Santa Maria Madalena e da catedral. Contemplei também a igreja de S. Cipriano (perto do albergue de peregrinos), mas sem registo, porque tinha muitos carros estacionados de frente! Deambulei assim durante quase 2 horas pelo bonito casco histórico de Zamora! Mesmo que quisesse ficar mais tempo por ali, a ansiedade para começar o Caminho não o permitiu! Até porque quando decidisse fazer a ligação de Sevilha a Zamora iria com certeza ficar mais tempo nesta cidade! Pelo que e após uns breves momentos de reflexão no bonito e antigo alpendre do Ayuntamiento, decidi iniciar o Caminho Sanabrês -, ou melhor iniciar a Via da Prata, porque em boa verdade as primeiras 2 etapas seriam ainda pela Via da Prata, pese embora alguns guias indicarem Zamora como o inicio do Caminho Sanabrês, quando na verdade inicia em Granja de Moreruela-! Não parti sem antes pedir que o momento fosse registado para a posteridade, com a gentileza de um transeunte local!
 
A saída da cidade de Zamora foi também ela muito pacifica graças ao fantástico guia do site Gronze que eu tive o cuidado de imprimir e levar comigo! Era preciso ter atenção à sinalética do Caminho Português da Via da Prata que induzia muitos peregrinos em erro, conduzindo-os à localidade de La Hiniesta em vez de Roales del Pan! Tanto neste particular como em outra situações o guia Gronze era muito preciso, pelo que foi com muita naturalidade e sem pedir qualquer informação adicional, que, a pouco e pouco, fui saíndo da cidade em direção a Roales del Pan! Comecei o Caminho às 11h00 e não estranhei não me ter cruzado com nenhum peregrino na saída da cidade, porque certamente, os que de lá saíram nessa manhã, começaram a caminhar bem mais cedo! Foram cerca de 7 km até Roales del Pan! Já na periferia de Zamora o Caminho ocorre pela a estrada que vai para La Hiniesta, 1,1 km depois desvia por um caminho à direita e por terra batida continua até Roales, onde por volta das 12h00 parei num bar para retemperar forças e refrescar-me, pois estava calorzito! Comi empadas que trouxera de casa (oferta da minha amiga Cruz Semedo) e fruta, tudo regado a preceito com 2 canecas de "canha" bem geladas! O preço também foi muito simpático, 2 euros as 2 canecas! Reabasteci as 2 garrafas de 0,50 centilitros de água! Coloquei protetor solar e perguntei ao Sr. do bar se podia carimbar credencial, disse-me que não tinha carimbo, mas que no Ayuntamiento poderia carimbar, foi o que fiz!
 
Foi já depois de Roales del Pan, num dos muitos caminhos de enorme extensão em linha recta, muito áridos e sem qualquer sombra (campos de cultivo), interrompidos a espaços pelas passagens superiores do AVE (comboio de alta velocidade), que vislumbrei ao longe os primeiros 2 peregrinos! Como ainda ia fresco e certamente com menos kms do que eles, foi com naturalidade que os alcancei! Após a conversa inicial de circunstância que incluiu o inevitável "Buen Camino", fiquei a saber que eram um casal de namorados, ela alemã de nome Sophie e ele, pasme-se, marroquino de nome Abdulah. Ela começara o Caminho em Sevilha, no inicio de Maio e ele, dias mais tarde, fora ter com ela a Salamanca! Falavam os dois espanhol, o que me facilitou bastante a vida! Entre amena cavaqueira lá nos fomos aproximando do destino do dia: Montamarta! Mas não sem antes atravessarmos aqueles intermináveis longos retões de terra batida, interrompidos a espaços pela linha do AVE!
 
Às 15h10 chegámos ao albergue de Montamarta (que durante muito tempo esteve fechado para obras), custava 5 euros, modesto, mas com tudo o que peregrino necessitava, nada a mais, nem nada a menos! Já lá estavam alguns peregrinos! Após o habitual ritual pós-chegada ao albergue, descansei um pouco no meu beliche, mandei uma msg de tlm para casa a avisar que estava tudo bem, entretanto chegou o hospitaleiro para efetuar o registo dos peregrinos e logo depois, juntamente com os meus 2 companheiros de jornada, baixámos à povoação para comprar mantimentos! Regressados ao albergue, sentei-me num banco à sombra e desfrutei de 2 latas geladas de cerveja S. Miguel que comprara em Montamarta!
 
Por volta das 20h00 fui até 1 dos restaurantes que estavam nas imediações do albergue, comi menu por 9 euros, que incluiu sopa de marisco, bife de vitela (ternera) e gelado, acompanhei com uma garrafa de água fresca (não me apeteceu vinho...)! Reconheci alguns peregrinos do albergue que também por ali jantavam! Os meus companheiros de jornada resolveram comer no albergue! Mais tarde, por volta das 22h00 ainda com luz solar, recolhi ao beliche! A noite e o dia tinham sido demasiado longos, descansar impunha-se!



terça-feira, 23 de junho de 2015

Caminho Sanabrês: entre o rescaldo e o diário da travessia!



Parti de Nisa a 27 de Maio, para realizar o Caminho Sanabrês a Santiago, entre 28 de Maio e 11 de Junho, fiquei 2 dias em Santiago de Compostela e regressei a casa no dia 13 de Junho! Foram 15 dias seguidos a caminhar desde Zamora até à Praça do Obradoiro! Só agora ganhei ânimo - mas não porque estivesse desanimado -, só agora ganhei motivação - mas não porque estivesse desmotivado -, não, longe disso, foi só agora porque o Caminho é vivido de forma tão intensa que não é fácil (nunca é...) retomar o dia-a-dia, retomar a vida (ir)real! As emoções emergem em catadupa, sem pedir licença! É preciso tempo para a descarga, para voltar a formatar o nosso "disco rígido"! Não é fácil partilhar com quem está fora do contexto do Caminho, mas alivia sobremaneira fazê-lo com os nossos amigos peregrinos, com os deste e com os de outros Caminhos! Foi reconfortante voltar para a família e para os amigos, contudo, a saudade e a nostalgia surgem de rompante! É a magia e o espirito do Caminho que não nos deixam a mochila e o cajado sossegados, é um desassossego de alma permanente e constante que nos volta a empurrar porta fora para a próxima travessia, para a próxima peregrinação! Em jeito de rescaldo e antes de convosco partilhar alguns momentos deste Caminho (sim, apenas alguns...porque outros são impossíveis de transcrever para o papel ou para blogosfera...), dizer-vos que o Caminho Sanabrês teve momentos e particularidades que nenhum outro teve: já tinha feito em solitário, mas nunca durante tanto tempo! Nunca foi necessária a proteção para a chuva! Muito bom tempo, a espaços com mais calor do que o desejável, o que fez com que, em muitos dias, começasse a caminhar muito cedo, mesmo antes do nascer do sol! Após muitos anos e já com os pés calejados do andamento, voltei a fazer bolhas (em relação a este particular lá iremos mais à frente...)! Foi o Caminho mais económico que alguma vez realizei: em 15 dias a caminhar gastei 270 euros, mesmo somando as viagens (onde também consegui consideráveis descontos com a compra antecipada) e os dias que estive em Santiago, o custo total desta peregrinação foi de 451,90 euros, o que dá uma média diária de pouco mais de 25 euros! Creio que a experiência acumulada dos anteriores Caminhos contribuíram de forma decisiva para ultrapassar os obstáculos deste (e foram alguns...)! Senti na pele o que é ser e viver como um peregrino, coisa que noutros Caminhos, até mais extensos, nunca senti de forma tão intensa! O que só vem (com)provar que nenhum Caminho (mesmo que repetido) e o contexto em que o mesmo se realiza, é igual! E como para o fim ficam sempre os primeiros, uma palavra de grande apreço, consideração e estima para os Amigos deste Caminho - e aqui é bom ressalvar que existem os conhecidos e os Amigos! -, não foram muitos, foram alguns e foram determinantes para que eu chegasse ao objetivo da minha travessia, tendo a consciência que  também contribui para que eles chegassem a bom porto! Amigos de várias nacionalidades, de várias idades, de vários estratos sociais e profissionais, mas todos com o mesmo propósito! Não será também isto o espirito do Caminho? Dos Amigos e deste Caminho vos falarei mais amiúde nas próximas linhas deste blogue!