quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Caminho Português da Costa: 28-09 - Póvoa de Varzim/Marinhas (Esposende)








Saímos pouco depois das 07h00 da manhã, ainda o dia começava a clarear. Tal como o hospitaleiro nos pedira, deixámos as chaves do albergue na igreja em frente e partimos rumo a mais uma etapa! Mais uma vez caminhámos sempre com o mar e praia à vista, foi assim até A-Ver-o-Mar e até Aguçadoura, onde parámos para tomar o pequeno-almoço, numa boa altura pois recomeçava a chover, ainda que ao de leve. O bar onde parámos estava a abrir pelo que aproveitamos para uma pausa. Logo depois passámos pelo primeiro peregrino no Caminho, neste caso um peregrina alemã, que nos pediu que lhe retirássemos os bastões da mochila. Mais à frente passámos por vastas plantações de couves. Atravessámos Apúlia à hora da missa e em Fão carimbámos a credencial nos Bombeiros. Atravessámos tranquilamente a cidade de Esposende até chegarmos a Marinhas e ao albergue (donativo) gerido pela Cruz Vermelha. Eram 13h00, só abria às 15h00, deixámos as mochilas e fomos almoçar. Depois ainda repousámos um pouco no jardim perto do albergue. Mais tarde chegaram 4 peregrinos: um casal americano, 1 espanhola e uma peregrina da Letónia. A tarde foi animada por um festival de folclore junto ao albergue. Tivemos uma agradável surpresa durante a tarde, a visita do Nuno Marques. Fomos tomar uma bebida e por a conversa em dia no mesmo restaurante onde almoçámos e onde acabámos por jantar. De salientar que o albergue tinha internet gratuita. Pelas nossas contas fizemos cerca de 25 km entre a Póvoa e Marinhas! 

Foto do albergue de Marinhas: visiteesposende.wordpress.com

Caminho Português da Costa: 27-09 - Refugio Sra. da Hora/Póvoa de Varzim












Antevia-se uma jornada longa, mesmo subtraindo os kms da véspera, porque a avaliar pelo que nos tinha dito o Abel Ribeiro, deveríamos ter pela frente cerca de 35 km. Por isso começámos cedo, muito tranquilos! Seguimos as orientações do Nuno Marques ou seja acompanhámos a linha do metro em direção à ponte móvel (Matosinhos), com a ajuda também do mapa com as ruas que o nosso amigo nos deixou! Não foi difícil chegar ao sitio certo! Uma breve chuva matinal ainda fez com que nos protegêssemos e às mochilas! Junto à ponte móvel visitámos o mercado de Matosinhos e tomámos o pequeno-almoço num bar. Retomado o Caminho atravessamos a ponte e tal como o Nuno nos dissera, a 1 seta amarela do Caminho da Costa surgiu imediatamente a seguir à ponte num muro à esquerda! Depressa apanhámos a lista costeira e a bonita paisagem da praia e do mar! A partir daqui os nossos pontos de referência, para além das setas amarelas, seriam o mar à nossa esquerda e seguir sempre para norte! Percorremos cerca de 7 km por passadiços de madeira estrategicamente colocados na praia! A paisagem era deslumbrante e com o bom tempo, fez com que tirasse algumas fotos! Um pouco antes de Angeiras parámos num bar junto à praia para carimbar a credencial e beber algo. Pedimos algumas informações sobre o percurso e retomamos a marcha! Às 13h30 estávamos a precisar de descansar e forrar o estômago que por esta altura já protestava em bom som! Parámos na Casa da Tia Mila em Mindelo e comemos um cozido à portuguesa para 2 que dava para 3, regado a rigor! Um bom repasto e um copo de vinho na altura certa fazem milagres! Estávamos de baterias recarregadas para empreender o resto da jornada até à Póvoa de Varzim! À passagem da ponte sobre o rio Ave em Vila do Conde já íamos avisados para passar por baixo desta e seguir a seta do Caminho da Costa (e não a do Caminho Central para Rates), continuámos até à Póvoa (que pega literalmente com Vila do Conde), onde chegámos às 16h00! Pelas contas que fizemos teriam sido mesmo os 35 km! Ficámos no albergue de S. José de Ribamar (donativo), excelentes instalações, com quartos para 2 ou mais pessoas e casa de banho na mesma peça! Muito bom! Situado no centro da cidade, perto do casino. Depois do banho e de lavar alguma roupa, demos um passeio pela cidade, vimos o jogo do Benfica com o Estoril, depois jantámos um frango de churrasco, seguido de um passeio noturno onde ainda deu para assitir a uma prova de automóveis junto ao casino. Recolhemos ao albergue pelas 22h30! Fiquei com a ideia que havia mais peregrinos, mas nenhum com que nos tivéssemos cruzado.

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Caminho Português da Costa: dia 26-09 - (Sé do Porto-Refugio Sra. da Hora) - o prólogo!









A viagem Nisa/Ródão e Ródão/Porto foi muito tranquila! Às 12h40 já nos apeávamos do Intercidades na Campanhã para logo apanhar o comboio urbano até à Estação de S. Bento (gratuito para quem chegue à cidade pelo IC). Às 13h00 lá chegámos ao destino final da nossa viagem. Saímos da Estação contemplando o magnífico painel de azulejos! O meu amigo António Ramos propôs-me uma visita pelas imediações para revisitar alguns locais por onde tinha trabalhado no seu inicio de carreira. Visitámos o Mercado do Bolhão, os Aliados, a Batalha, a Rua de S. Catarina e o Coliseu! Junto à Estação de S. Bento degustámos um prato de Rancho, regado com tinto da região, o primeiro repasto no Caminho! Fomos andando até à Sé Catedral, contempla-mo-la por fora e por dentro, tivemos o nosso momento de reflexão pré-Caminho, colocámos o 1º carimbo! Ao nosso encontro veio um velho amigo do António Ramos, o Lázaro que connosco percorreu os primeiros metros do Caminho, nãos sem antes deitarmos um último olhar ao Douro e à Ribeira! Pelo meio tomámos um par de finos num bar à beira da estrada (Circunvalação). Às 18h30 chegámos ao Refugio da Sra. da Hora (donativo), onde já nos aguardava o Abel Ribeiro e um amigo seu! Depois das 19h00 veio ter connosco o Nuno Marques e na sua companhia visitámos o albergue do Mosteiro de Vairão, depois jantámos na Maia e realizámos um périplo noturno pela Ribeira, já na companhia do Silveiro Santos, fechando a noite com uma bebida numa das muitas esplanadas ribeirinhas! O Nuno deixou-nos no Refugio com um até breve! Ainda lá estava o Abel e o seu amigo! Quanto a nós despedi-mo-nos, pois teríamos que descansar e recarregar baterias para a jornada seguinte até à Póvoa de Varzim! 

Nota: Em determinada altura e sem nos darmos conta, começámos a  seguir as setas amarelas do Caminho de Braga (como nos confirmou mais tarde o Abel Ribeiro), o que nos fez, não só desviar do Caminho Central, como também andar um pouco mais do que o previsto! Seria conveniente e aconselhável que, quem de direito, assinalasse de forma visível, um e outro Caminho, principalmente para quem não é do Porto ou não conhece a cidade. Fica a sugestão!

Foto do Porto à noite (Silverio Santos)

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

7 anos e 7 Caminhos depois, ficam as emoções, os amigos e uma incontornável vontade de voltar!





"(...)Os Caminhos de Santiago já ultrapassaram o seu significado puramente religioso(...)como qualquer outra peregrinação,(...)pressupõem um itinerário, mas não se esgotam nele. Há uma motivação. Uma vontade de despertar a busca interior, promovendo assim o enriquecimento espiritual e cultural."
(A Alma das Pedras, Paloma Sanchez-Garnica)

"(...)Somos tão pequenos, quando comparados com a grandiosidade da paisagem, mas no fundo nunca nos sentimos tão grandes! Sentimo-nos livres. Estamos em paz."
(14: Uma Vida nos Tectos do Mundo, João Garcia)

"A pé sempre em torno da terra, a pé sempre em torno do mar, sempre em torno do sol, da lua e das estrelas(...)"
(Jacques Prévert)

Cheguei! Chegámos! Foram 17 jornadas vividas com uma intensidade que não tem paralelo no quotidiano, que designamos por vida real! Cada dia tem a sua história para contar, sempre diferente, porque aqui não há espaço para a monotonia! Do Porto a Santiago, pela costa, pelo Salnês, ficam as fotos da máquina e os retratos da alma! De costa a costa, fica a diversidade da paisagem, da cultura, dos usos e costumes, dos saberes e dos sabores, das pessoas, dos Amigos...ai os Amigos...que conforto nos dão! 

Não consigo eleger um Caminho, porque talvez não haja um Caminho, há sim o Caminho, sempre diferente, porque aqui não lugar para a indiferença, porque ninguém fica indiferente ao Caminho! Ficam-me da 7ª travessia, algumas (muito poucas) agruras ultrapassadas com determinação, mas ficam-me em dobro as boas recordações, as emoções! Fica-me a sensação nostálgica da intensidade com que vivi cada momento, mas ao mesmo tempo uma sensação de impotência porque querer ter sentido mais, por querer ter desfrutado mais, por querer ter vivido mais! Se calhar é este sentimento misto, qual angustia, que nos faz sentir uma saudade eterna e querer voltar ao Caminho...sempre!

Cheguei! Chegámos! Cheguei com uma vontade imensa de partilhar o diário do Caminho da Costa, no sentido de que o mesmo sirva como um pequeno subsídio e de impulso para todos os que queiram abraçar este itinerário a Compostela! Servirá como um pequeno guia, mas também nele haverá espaço para o sonho, para a imaginação, para a contemplação! Num mundo que cada vez corre mais rápido por nós, falta-nos tempo para o vivermos, para desfrutarmos das coisas boas, no fundo das coisas simples, que no dia-a-dia, nos passam indiferentes, mas no Caminho não há lugar para a indiferença, veja-se o momento de rara beleza que foi ouvir o recital de coros polifónicos na igreja de S. Francisco de Assis em Santiago! Que paz de espírito!

E os Amigos! Amizade para a vida! A que o Caminho fez e a que o Caminho fortaleceu! Os momentos de partilha! Brindar aos Amigos! Quero saudar todos os amigos do Caminho da Costa, todos sem exceção, porque todos foram determinantes no momento certo! Aos de quem nunca saberei o nome e aos outros também: ao António Ramos Amaro com quem mais partilhei o Caminho da Costa, ao Abel Ribeiro (Refugio da Sra. da Hora), ao Nuno Marques, ao Silvério Santos, ao Carlos Gonçalves (Associação dos Amigos do Caminho de Santiago de Viana do Castelo), ao hospitaleiro do albergue de Mougás (e ao seu irmão), ao Luís Freixo, à Marta Martin Alonso, ao Wolfgang, ao Alberto (albergue/Proteção Civil de Vilanova de Arousa), ao António Carrasco e à Ivone Santos por terem aceite o meu desafio e com quem partilhei momentos que perdurarão!

Cheguei! Chegámos! E já me apetece partir!

Fotos de António M C Carrasco