sábado, 12 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 5
Dia 4 de Abril de 2013 (5ª feira)

Zafra – Vilafranca de Los Barros – Almendralejo (40,6 km)  

Saí do albergue às 07H10 depois de uma última insistência do António para ali permanecer mais um dia.
À saída tive alguma dificuldade para encontrar dentro de Zafra o rumo certo, o que consegui com a ajuda de uns caminheiros matinais que me puseram no bom caminho até Los Santos de Maimona.

Após uma longa descida com piso cimentado passei, sem parar, na povoação e sem perder nunca de vista as setas amarelas, segui por um caminho meio lamacento com alguns aguaceiros à mistura, o que para a minha tendinite veio mesmo a calhar bem, a passagem pelas zonas de vinha foi terrível, infernal mesmo, chuva e atolamento constante numa lama que teimava em agarrar-nos e não nos querer deixar seguir.

Passada a linha do comboio e transposta a autoestrada por uma passagem subterrânea, após alguns quilómetros e antes de chegar à povoação seguinte, deparei com mais uma linha de água e pela segunda vez neste caminho tive a sorte de apanhar mais uma boleia de carro durante alguns metros.

Em Calzadilla de los Barros (fiquei a saber nas pernas o porquê do nome) fui presenteado com mais uma carga de água, aproveitei para comprar comida para o almoço e para o que faltava da etapa, acomodei-me na entrada do mercado onde a chuva não me chegava, terminei o repasto, entrei na farmácia, comprei anti-inflamatórios, tomei dois e ala que se fazia já tarde.

Na saída da povoação entrei num amplo caminho de terra batida, barro e mais barro, oliveiras e vinhas, muitas vinhas, até atingir o campo público El Chaparral, espécie de terreno publico loteado com pequenas parcelas de vinha, recomeçou a chover, o barro que se colou às botas, aliado á minha debilidade física, tornava extenuante andar, foi talvez o pior troço de todo o caminho, deixei de me preocupar e comecei a andar a direito, por dentro de água, pelo meio do barro, encontrei um vinicultor de carro em sentido contrário que insistiu veementemente para voltar para trás com ele, que se lixasse não iria para trás, para a frente sempre, este era o meu caminho.

Após uma hora neste martírio atingi de novo um caminho amplo com um piso um pouco melhor, daí até ao desvio para Almendralejo foi mais uma hora a bater o pé, onde cheguei completamente de rastos, ter exagerado nos anti inflamatórios provocou umas náuseas desagradáveis que me deixaram mareado, procurei desesperadamente o Hotel Los Angeles onde ficaria a pernoitar e onde cheguei pelas 15H45, para casa mandei a mensagem que estava tudo sob controlo, mas na realidade estava todo “mamado”.

O quarto de 25 € com casa de banho e tv foi providencial, não lavei roupa, tomei banho, saí para comprar mantimentos e decidi comprar também algo para jantar no quarto, depois de regressar, estendi-me na cama a ver tv e desliguei por completo, ligaram-me as 11 da noite e constatei que afinal nem tinha jantado, que se lixasse também não tinha fome e estava agoniado, dormi até de manhã.

Desta etapa, muita lama, muito dureza…!









Texto e fotos: António Pimpão

sexta-feira, 11 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 4
Dia 3 de Abril de 2013 (4ª feira)

Monesterio – Fuente de Cantos - Puebla de Sancho Pérez – Zafra (41,6 km)

Daqui a Santiago de Compostela distam 831 quilómetros, esta etapa era a segunda maior da minha programação, daí que tenha saído de Monesterio ainda de noite com o Patrick, peregrino alemão, companheiro de quarto no albergue, tive que ligar o frontal, à nossa frente iam três pessoas, que fiz questão de tentar não perder de vista devido ao facto de estar avisado pelas conversas na net com o António do albergue de El Zaguan de la Plata em relação ao facto de ter de contornar o “arroyo Bodion” pela estrada e queria ter a certeza de que não seguiriam por lá.

O caminho em muitas partes estava completamente alagado, foi tentar sempre seguir por onde melhor desse, o Patrick decidiu parar e mandou-me prosseguir, deixei-o um pouco relutante, foi a ultima vez que me cruzei com ele, segui no encalce dos outros peregrinos da dianteira que alcancei sem nunca me juntar a eles, a determinado momento comecei a avistar Fuente de Cantos lá longe ainda distante, a 11 km.

Os companheiros da dianteira informam-me por gestos do desvio pela estrada, que martírio caminhar por estrada com a povoação á vista e a chover, ultrapassei-os mesmo á entrada da povoação, ficariam por ali, eu, bem, eu fui visitar o António do albergue Zaguan de la Plata, que me prestara ótimas informações e a quem fui agradecer pessoalmente a preciosa ajuda, deixando um galhardete de Nisa, carimbei a credencial e fui comprar comida que devorei no alpendre do que me pareceu ser o centro de saúde junto á igreja, por estar a chover com alguma intensidade, demorei mais um pouco, arrumei bem as coisas na mochila, ajustei o casaco, abri o guarda-chuva e segui viagem.

Tomei um caminho amplo de terra batida e plano com a estrada á vista pelo lado direito até chegar a Calzadilla de los Barros, que transpus sem parar seguindo as setas amarelas, muita água, lembrei-me do aviso do António para fugir ao rio Atarja, decidi não arriscar e segui de novo pela N-630, sem as amigas setas amarelas durante muitos quilómetros, a tendinite começou a incomodar-me, não hesito, tomo dois comprimidos para as dores e sigo, ao chegar a uma bomba de gasolina abandonada junto á estrada parou um carro que me elucida sobre a distância a ainda a percorrer e me diz que não estou no caminho certo, ignoro e mantenho-me alerta até atingir um cruzamento de estrada e confluência de um caminho em terra batida, fico ali na dúvida sobre o rumo a seguir, consulto o gps do telemóvel e vejo que a direção é a certa, para um carro com uma simpática senhora que me põe na rota correta rumo a Puebla de Sancho Pérez, tinha já andado mais alguns quilómetros e já com a povoação á vista caiu uma caqueirada de água que juntamente com o telefonema de casa me acompanharam até chegar ás imediações das primeiras casas, ao chegar vislumbro um café, o bar a perdiz e decido parar, tinha sido uma grande jornada, estava com uma fome de arromba, peço algo para comer, hora de la siesta diz-me o empregado, no hay nadica, solo unas tapas, olho e digo para me servir todas as que se encontravam na vitrine, peixe frito, salsichas, bacon, batatas fritas, que devorei num ápice juntamente com uma, não, duas cervejas e um belo café para rebater, foi uma das refeições que me deu mais prazer comer, até Zafra dizem-me são mais 4 km.

Meto a mochila as costas e faço-me à vida debaixo de mais uma chuvada até chegar à estação de comboio de Zafra que ultrapasso seguindo pela avenida, atingindo o recém aberto albergue da Associação dos Amigos do Caminho de Zafra, no nº 17, eram 16H30, onde fiquei soberbamente instalado e onde apenas havia três peregrinos, jantei no albergue juntamente com o Antonio Mateo e um ótimo pintor de cujo o nome já não me recordo  e que ofertou para o albergue alguns quadros por si pintados, após a tradicional compra de mantimentos, lavagem de roupa e arrumação da mochila, o António verificando o meu problema físico convidou-me a permanecer por ali mais um dia ou dois o que recusei amavelmente, escolhi a cama junto ao ponto de internet onde estive até altas horas a conviver com os amigos que ainda não tinha tido oportunidade de contactar, cansado larguei o computador , caí na cama e adormeci profundamente.

Desta etapa destaco o largo número de quilómetros que palmilhei por estrada devido ao facto de ter que evitar as inúmeras linhas de água. 







Texto e fotos: António Pimpão

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 3
Dia 2 de Abril de 2013 (3ª feira)

Almadén de la Plata - Monesterio (34,4 km)

Dia incaracterístico, saí do albergue ás 8H00 da manhã, sozinho mais uma vez, subi até á praça de touros e daí até umas instalações de painéis solares, passei por algumas quintas, tive que abrir e fechar algumas cancelas, tive a companhia de alguns porcos que me acompanharam pelo caminho, atravessei a vau mais um “arroyo”, desta vez descalcei-me e pelo sim pelo não, tirei também as calças, prometi a mim próprio que desde o “arroyo de los molinos” tudo o que tivesse que ser atravessado seria em pêlo, quando estava já do outro lado a vestir-me e a calçar-me encontrei uma moeda de euro que prometi deixar como esmola no primeiro local que tivesse oportunidade.

Depois de uma subida durita e de uma descida que teve de ser feita de forma cuidadosa e de ter saído, pelo que me apercebi, de terrenos particulares, cheguei a um estradão que me levou até á ultima povoação da Andaluzia, El Real de la Jara, onde cheguei por volta das 09H45, passei junto ao albergue, os primeiros quinze km estavam feitos, aproveitei para comprar e comer alguma coisa, num banco de paragem de autocarro que era coberto e deu para proteger de uma chuva miudinha que ía caindo, bebi um cafezito num bar próximo e segui viagem 15 minutos depois para os últimos vinte quilómetros.

Assim que saí da povoação, apreciei o belo castelo medieval que serviu de defesa à povoação e mais uma surpresa, o “arroyo de la víbora” que serve de fronteira natural às províncias de Andaluzia que acabava de deixar para trás e da Extremadura em que estava quase a entrar.

Como dizia, estava eu a preparar-me para tirar a botita e cumprir um gesto que se estava já a tornar habitual, quando passa um senhor numa carrinha que se predispõe a deixar-me subir e que me evitou mais uma chatice, bom devo dizer que entrei na nova província de carro, ainda que por poucos metros á boleia. De seguida tirei algumas fotos tendo como pano de fundo as ruinas do Castillo de las Torres, tendo prosseguido por muitos kms atravésde um estradão em linha reta que até metia cobiça andar rápido, cheguei a um cruzamento de estradas bem movimentadas que atravessei a medo, mas como há já algum tempo vinha sentindo uma dorzinha no tendão direito parei por algum tempo junto a uma ermida (San Isidro) no cimo de um elevação, descalcei as botas e comi alguma coisa.

Voltei a andar, baixei o ritmo dado que a sensação com a paragem piorou e temi que fosse alguma tendinite, o terreno esse também deixou de ser como ate ali, uma subida bastante acentuada até chegar ás imediações de Monestério que me fez temer o pior e que tive que fazer a um ritmo mesmo muito baixo.


Cheguei a Monesterio ás 14H30, optei pelo albergue paroquial simplesmente por estar mais perto da saída no dia seguinte, paguei dez euros, apesar de estar referenciado como donativo, mas valeu a pena, lavei a roupa, tomei banho e fui comprar reabastecimentos para o dia seguinte e para lanchar dado que não tinha ainda almoçado, já com as energias renovadas, aproveitei para fazer muito gelo na região afetada, saí depois e fui dar uma volta, dei de caras com a igreja, estava fechada, bati numa porta e sai-me o Sr. padre, explico-lhe o propósito da minha visita, queria deixar de esmola a moeda que tinha encontrado pela manhã, faz-me uma visita guiada, diz-me que no tempo da guerra civil espanhola a igreja tinha sido incendiada e nada se tinha salvo, pelo que todas as imagens existentes eram recentes, cumpro a minha promessa e saio agradecido, volto ao albergue onde se encontra já um casal canadiano e um jovem alemão que tinha já encontrado nos albergues nos dois dias anteriores, faço mais uma sessão de gelo e saio para jantar, desta vez sozinho, termino, e volto de imediato ao albergue, arrumo a mochila e deito-me na cama a ler tendo como companheiro de quarto o alemão com quem tento manter um diálogo difícil em inglês, deixo a leitura, ponho-me a ouvir musica e assim devo ter adormecido.







Texto e fotos: António Pimpão

quarta-feira, 9 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Etapa 2
Dia 1 de Abril de 2014 (2ª Feira)

Castilblanco de los Arroyos – Almadén de la Plata (28,8 km)

De véspera o hospitaleiro voluntário de Barcelona, Francisco Ruzafa sugeriu a quem estivesse interessado que em virtude dos primeiros 16 km desta etapa ocorrerem unicamente por estrada, havia a possibilidade para quem o desejasse, fazê-lo de táxi, claro que da minha parte lhe disse que isso nunca me passaria pela cabeça e que imaginava já os meus companheiros de outros caminhos a esboçar um grande sorriso quando lhes relatasse essa generosa oferta.

Decidi sair sozinho ás 06H50 da manhã, a etapa seria das mais curtas, entre o inicio e o fim da mesma, nenhuma povoação para jurar, das 15 pessoas que estavam no Albergue, pelo menos 6 fizeram de táxi os 16 kms até á entrada da “Finca  El Berrocal”, em pleno Parque Natural La Sierra Norte, demorei 3H10 a fazer essa distância, apenas avistando aqui e acolá algum gado vacum de um lado e  e do outro da estrada, parei durante meia hora num pequeno abrigo junto á entrada do parque natural para descansar, comer qualquer coisa e tirar umas fotos.

Animado, entrei pelo caminho de terra batida, passei junto á casa florestal e segui pelo parque, sem chuva e a bom ritmo, passei por duas linhas de água utilizando as poldras que lá existiam, passando ao lado das ruinas de uma antiga povoação, El Berrocal. Saindo da finca, o caminho torna-se mais estreito e em tempo de chuva e com a muita, é difícil manter os pés secos. Alcança-se o cimo do cerro do Calvário, muito perto já do final, que se avista a partir daí e que alcancei após uma descida muito manhosa, acentuada e cheia de pedras que dificultou a marcha, avistei alguns porcos que me acompanharam do outro lado da vedação até chegar a Almadén de la Plata onde me dirigi ao Albergue Juvenil Via de la Plata a que cheguei por volta das 13H30.

Tomei mais uma vez banho de água fria pelo segundo dia consecutivo, arrumei as coisas, lavei o que tinha que lavar, estendi e saí para comer alguma coisa.
Comi um “bocadillo” de presunto, tomate e azeite e lembrei-me do Alexandre Bittar por causa do azeite. Fui comprar umas coisas para o pequeno almoço, levantei dinheiro e dei uma volta pela povoação, acabando por passear mais do que tinha previsto, tirei umas fotos e voltei ao albergue, descansei até ir jantar, coisa que fiz na companhia de um casal  e duas peregrinas francesas, acabando por ter um jantar agradável que deu para desenferrujar um bocado o meu francês.


A seguir ao jantar uma dei uma voltinha alargada, chegado a rotina habitual de arrumar o que podia e deitar a ouvir musica até adormecer.






Texto e fotos: António Pimpão

terça-feira, 8 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca)

Dia 31 Março de 2013 (Dia de Páscoa)

b) Santiponce – Guillena (12,8 km) + Castilblanco de los Arroyos (18,2 km)


Tive que esperar que o dia acordasse para partir, o que fiz quando eram 07H15, saí com chuva, por uma estrada secundária cerca de 1 km e depois de passar por baixo da autoestrada, onde se encontrava uma patrulha da guarda civil, sigo as setas que me direcionam à esquerda para uma reta sem fim de terra batida ao serviço das águas de Sevilha, entre vastos campos.

Comecei a vislumbrar lá longe uma torre muito alta, vejo árvores que me indiciam uma linha de água, tinha entrado nesta pista de terra batida há 4 km quando me deparo com o “Arroyo de los Molinos”, conforme me vou aproximando verifico que não se trata de um simples obstáculo, mas de um grande problema, acredito que noutra altura do ano facilmente se transpõe, mas agora há que procurar solução e na verdade, percorro a margem e não vislumbro nada de bom, descalço as botas, ensaio alguns sítios para passar, impossível, muito fundo, sigo um trilho para o lado direito, um tronco atravessa o ribeiro até pouco mais de meio do leito, respiro fundo, tinha que me decidir, arregaço as calças até onde posso, verifico os haveres, para não cair nada, dou mais um aperto na mochila, como se isso valesse de alguma coisa, dou um nó nos cordões das botas que coloco ao pescoço, vejo uns chinelos a boiar na agua, certamente de alguém que por ali teria passado antes de mim, esperançoso que do lado de lá não fosse tão fundo, subo para o tronco e inicio a travessia, não há volta a dar, agora é seguir em frente, atinjo o fim do tronco e vejo que me separam ainda uns dois metros da outra margem, verifico o fundo com o guarda-chuva, fiel amigo que me acompanha sempre, a fundura era ainda considerável, mas já não ia voltar atrás, atiro o guarda-chuva para a outra margem enlameada, curiosamente fica espetado na lama tipo lança, tento sentar-me no tronco, escorrego e dou por mim com água de agua pela à cintura, tento pôr-me em bicos de pés para não molhar a mochila e sinto os pés a entrar na lama, deito a mão a um ramo de árvore e consigo, em esforço, soltar um dos pés e balancear-me para a margem, consegui atingir o outro lado, ainda com os pés na água observo agora o que fiz, ainda com o coração na boca penso no que poderia ter acontecido se em vez de cair de pé, tivesse caído de outra forma, com a mochila e todo o peso que transporto e amaldiçoo-me em voz alta por ser tão inconsciente e burro, aqui sozinho e a chover não o devia ter feito, sigo a margem até atingir de novo o caminho, tiro a mochila, dispo as calças molhadas, torço-as o mais que posso, visto-as de novo, limpo os pés, calço as meias e as botas, respiro fundo e observo agora do lado de cá, fico ali alguns minutos a agradecer silenciosamente, sei que não estou sozinho, sinto-o pela primeira vez, levanto-me, coloco a mochila às cotas e sigo viagem sem sequer olhar para trás…

(soube posteriormente que meio km antes do “Arroyo de los Molinos” existe um caminho á esquerda que conduz á Nacional 630, onde depois de 2,5 km se entra na A-460 por mais 4 km até se atingir Guillena)

… Depois de ultrapassado o “arroyo” caminhei em linha reta 3,5 km, já com Guillena à vista, voltei á direita e algum tempo depois á esquerda por um caminho completamente alagado até atingir outro arroyo o “Galapagar”, desta vez não arrisquei, segui por um trilho à esquerda ao longo da margem, até atingir a estrada e entrar assim em Guillena eram 10H30, dirigi-me ao albergue para me preparar para o que faltava ainda da etapa, lavar-me e comer algo, mas dado que o albergue para além de estar ainda encerrado se encontra na saída da povoação e não haver nenhum bar nas redondezas, segui em frente para os restantes 18 kms que me faltavam ainda.

Bom, normalmente o caminho prossegue com o atravessamento do rio “Rivera de Huelva”, mas estava destinado a não atravessar mais nenhuma linha de água hoje, passei na ponte alguns metros a montante e segui pela estrada, por pouco tempo, já que continuei de novo por caminhos, passei pela “Dehesa del Cortijo del Chaparral”, comi uns frutos secos, roubei uma laranjas e encontrei os primeiros peregrinos do caminho, um casal francês, Isabel e Daniel que viria a encontrar no albergue, apanhei algum alcatrão ainda antes de chegar e atingi o meu objectivo, Castillo Blanco do los Arroyos às 15h00.  

Bom, devido a ter sido dos últimos a chegar ao albergue, que se encontrava a abarrotar de peregrinos alemães e franceses na sua maioria, tomei banho de água fria, lavei a roupa imunda da passagem matinal pelo arroyo, limpei as botas e fui comprar comida por estar faminto e também para o pequeno-almoço do dia seguinte, voltei ao albergue e comi que nem um desalmado na companhia de um peregrino alemão a quem convidei a juntar-se a mim, de seguida fui verificar a roupa e constato que dificilmente enxugaria até ao dia seguinte, conheço o hospitaleiro Francisco Ruzafa, voluntário, de Barcelona, uma pessoa muito prestável que se disponibiliza para me secar a roupa na secadora que possui nos seus aposentos e dá-me jornais que me apressei a colocar dentro das botas para que secassem melhor, decidi dar 10 euros de donativo para o alojamento e ofertei-lhe um dos galhardetes que levei para esse efeito.

Fui jantar, menu peregrino, bebi um café e um anis que me soube mal para caraças, no regresso o Francisco diz-me que andavam ali a rondar umas pessoas pouco recomendáveis e pede-me se me importo de dar uma olhadela por ali até que ele jante, tarefa para a qual me disponibilizei de pronto, no regresso conversamos um pouco, disse-me que já fez o caminho central desde o Porto, trocámos os nossos endereços de email e fui dormir que bem precisava.

O mau estado de alguns caminhos provocado pelas fortes chuvas que se tinham feito sentir e algumas linhas de água com o caudal acima do normal foram a nota de marca desta etapa.

Texto: António Pimpão

domingo, 6 de abril de 2014

Via da Prata I (Sevilha - Salamanca):diário do peregrino António Pimpão


Não queria, antes de iniciar o relato da minha caminhada de Sevilha a Salamanca, deixar de referir que a planificação é necessária, não demasiado exaustiva, mas com alguma fiabilidade, principalmente quando se caminha em solitário, tal como eu caminhei! Reconhecer que há imprevistos para os quais devemos ir precavidos e que vão contra qualquer planeamento, sejam de índole climatérica, física, geográfica ou outra.

 Prólogo

Com destino a Badajoz, saí de carro, de Nisa, transportado por 2 amigos, o Caixinhas e o Pinto, sábado às 6 da manhã de 30 de Março de 2013, véspera de Páscoa. Chegámos às 07H30, quer dizer 08H30 tendo já em conta a diferença horária.
A espera para o autocarro até Sevilha foi curta, o bilhete tinha sido adquirido uns dias antes, pelo que, efectuadas as despedidas da praxe do meu “motorista” e “guarda-costas”, a saída do terminal rodoviário em autocarro rumo a Sevilha deu-se pelas 09H00, tal como previsto.
A viagem de autocarro permitiu-me ter um primeiro contacto com uma Estremadura espanhola, para mim incógnita e misteriosa e que há muito ambicionava conhecer, descobri-la a pé iria ainda ser mais enriquecedor sem dúvida…
A viagem deu-me a conhecer algumas povoações pequenas ao longo da minha ida para sul, a paragem em quase todas as estações foi secante confesso, a chegada a Sevilha aconteceu pelas 11H30 ao terminal da “Plaza de Armas”. Na minha planificação tinha visualizado imagens sobre o itinerário até à catedral, pelo que num ápice cheguei ao início do Caminho, estranhando logo o número anormal de pessoas que ia encontrando à medida que avançava.
Na capital da Andaluzia visitei a catedral, aproveitando para colocar o 1º carimbo na credencial tal como planeara, dei uma volta completa pelo seu exterior, filas e filas de pessoas para entrar, eu a pensar que só no dia seguinte iria haver engarrafamento humano por ser dia de Páscoa e afinal…
Dei outra volta procurando uma saída, neste caso, entrada e deparo-me com uma, lateral, onde uma simpática jovem parecia dar informações a quem se lhe dirigia, tentei a minha sorte, identifiquei-me como peregrino, mostrei a credencial, disse-me primeiro que não, não podia fazer nada, insisti, pedi que falasse com algum superior, assim fez, e do interior alguém me fez sinal para entrar, a jovem quase me leva pelo braço pela porta lateral, atravessando de ponta a ponta toda a catedral, até à entrada principal onde simpaticamente, sou colocado no inicio da fila e me carimbam a credencial, sempre na companhia da jovem que me serviu de cicerone, depois fiz, acompanhado, o caminho de regresso até à porta por onde tinha entrado, não sem primeiro tirar algumas fotos no interior. Despedi-me, eternamente grato pelo primeiro sinal positivo que recebia…

Etapa 1  (Sevilha – Castillo Blanco do los Arroyos, 40 km)

Dado a considerável distância desta etapa, decidi aproveitar a tarde do dia de chegada a Sevilha e adiantar-me, saindo, naquela que seria uma jornada curta, em jeito de prólogo, até Santiponce, num percurso de 10 km, deixando os restantes 30,7 km, entre Santiponce e Castillo Blanco de los Arroyos para o dia seguinte!

Dia 30 de Março de 2013 (de tarde)
a) Sevilha – Santiponce (10 km)






…Tentei então não perder muito tempo e dirigi-me à “Puerta de la Assunción”, procurando no chão a vieira que simboliza o inicio da “Via de la Plata”, tirada a foto da praxe, iniciei a minha demanda rumo a Santiago eram exactamente 12H30 certinhas, seguindo pelas ruas Garcia de Vinuesa, Jimios, Zaragoza sempre com a ponte sobre o Gualdiquivir como referência, rapidamente, depois de mais uma vez me ver perdido no meio de uma multidão, consegui passar a ponte e após algum tempo, chegar junto ao local onde simbolicamente, ao lado de umas escadas que temos que transpor, pintaram, num muro, a Catedral de Santiago, existindo também aí um pórtico que dizem dista 1000 kms de Santiago de Compostela.

Daí segui pela berma da estrada dado que no caminho habitual, na via pedonal tinham colocado uma grade impedindo a passagem, o que obrigou a este desvio e retomar o caminho mais á frente. Ultrapassado este contratempo, dirigi-me então, junto à margem do rio, por um caminho, se é que se pode chamar caminho a uma faixa lavrada em barro endurecido e em que dei graças por não estar de chuva.A etapa seria somente de 10 kms até Santiponce onde se situa o conjunto arqueológico de Italica, ruínas e anfiteatro desta antiga cidade romana. Aí chegado parei no primeiro bar que encontrei, de nome “Bodeguita Reys” eram 14H30 e aproveitei para matar a fome com um “montadito de lomo com roquefort” umas ”aceitonas” e duas belas e retemperadoras “canhas”, depois de um relax merecido procurei o hotel Cidade Romana de Itálica (de 3*) onde tinha reserva, 40 euros, puxa, carito, mas enfim ou isso ou dormir na rua, um belo quarto com tv esperava por mim, arrumei a mochila, tomei um banhinho e fiquei por ali a xonar até me decidir sair de novo e explorar a saída para o dia seguinte, nas redondezas procurei um local para jantar mais tarde, passei junto às ruinas e tive uma perspetiva da coisa, comprei o pequeno-almoço e algo para comer no dia seguinte.

Depois de deixar no quarto as compras, desci e jantei na Casa Venâncio, dois bifes de frango com salada de alface e tomate, 1 coca - cola e café, por 10,90€, achei exagerado, mas enfim, saí dei uma volta a fazer tempo, regressei ao quarto e vi televisão até adormecer. Retive desta tarde do primeiro dia a confusão de pessoas em Sevilha e o caos para conseguir carimbar a credencial…