sábado, 27 de fevereiro de 2010

O Caminho certo...

Realizar o Caminho de Santiago de Compostela foi e será sempre, acima de tudo, a concretização de um sonho muito pessoal.
Sejam quais forem as motivações que nos levam ao Caminho, uma coisa é certa, depois de percorrido, ninguém sai dele da forma como entrou.
Desde 2007, que a minha convicção foi voltar de novo ao Caminho, daí que este regresso, sabe como que a sonho adiado, embora as circunstâncias e as motivações, sejam muito distintas daquelas que me levaram a fazê-lo da primeira vez.
É claro que agora, independentemente das causas de cada um de nós, o que é certo é que estamos muito melhor preparados e prevenidos, já que as circunstâncias e os modos são por si só completamente diferentes.
Neste âmbito queria debruçar-me um pouco sobre a temática da realização do Caminho, não em solitário, mas em grupo.
É incontornável, a realização do caminho em grupo dá uma outra segurança "mental", já que nos sentimos muitos mais amparados em termos de ultrapassagem de eventuais obstáculos que surjam, sejam eles de que índole forem, embora o facto da realização do Caminho em grupo traga também o cuidado de acautelar alguns aspectos que me parecem de importância vital.
Da minha experiência de 2007, pude constatar, que apesar do período mais longo que caminhamos juntos tenha sido de seis dias seguidos, a maior dificuldade encontrada não foi a originada pelos vários "obstáculos" do Caminho, mas sim a gerada pela dificuldade de entendimento entre os componentes do grupo, e em que, ao invés de aproveitarmos as qualidades pessoais de cada um para ultrapassar divergências pontuais, o aspecto contraproducente, foi termos por vezes negativamente, esmiuçado os defeitos individuais de cada um de nós.
Isto como atrás referi, passou-se com poucos dias de convivência, o que não será o caso desta vez, já que teremos de nos aturar uns aos outros pelo menos por 30 dias seguidos.
Nesse aspecto e embora já alertas para uma eventualidade destas, por o termos sentido na pele em 2007, abordando a questão, chegámos à conclusão que se tal se vier a verificar, o que estamos convictos acontecerá, iremos tentar ultrapassar este "problema" dando uns aos outros o tempo e espaço suficientes para uma reflexão interior, tendo a certeza que só através dessa compenetração individual, esse tipo de eventual situação poderá ser ultrapassada com sucesso.
Um bom planeamento do caminho impõe-se, sendo esse planeamento oneroso sob todos os aspectos. No nosso caso, foram mais de dois anos dispendidos a planear, a poupar financeiramente para criar melhores condições de realização, embora, claro está, não seja só o factor monetário que se destaca em termos de grau de importância para nós, outros houveram que fizeram parte do nosso planeamento.
Por esse motivo todo e qualquer projecto em grupo terá que ser planeado e preparado de um modo dissemelhante da forma que seria para uma execução individual.
Dessa forma quer parecer-me que cada elemento deverá ser responsável por si mesmo e pelo grupo, e, muitas vezes ao tomar as suas decisões, o interesse do grupo terá que prevalecer sempre antes do interesse pessoal, mesmo que isso venha confrontar com os seus anseios pessoais.
Com a experiência que fomos adquirindo ao longo dos anos, penso termos as condições ideais para planearmos e preparar-mo-nos mentalmente para evitar esse problema de interacção pessoal.
Seria contraproducente não utilizar as experiências e conhecimentos de todos os elementos do grupo.
Cada participante, terá que sê-lo activamente e não tornar-se um mero espectador à espera que outros decidam por ele, muitas vezes de forma errónea.
O simples facto de todos estarmos envolvidos nas decisões tornará o caminho muito mais atractivo e facilitará o relacionamento entre os elementos desse grupo.
A questão é que quando as coisas são feitas por gosto, para além de se tornarem mais aprazíveis, tornam-se complementarmente mais exequíveis, pelo que, e utilizando aqui a velha máxima de que "a união faz a força", poder-se-á dizer que se tirarmos partido do melhor de cada um de nós a todos os níveis e em beneficio do grupo, esse facto irá dar ao grupo uma estabilidade e uma força maior e individualmente irá satisfazer-nos por termos dado o melhor de nós em prol de um objectivo comum a todos.
Parece-me por isso muito importante definir responsabilidades dentro do grupo, sendo que essas responsabilidades não serão mais que a divisão de tarefas inerentes à realização do Caminho.
Com essas definições feitas e sem que isso belisque as motivações pessoais de cada um, o beneficio colectivo prevalecerá.
Ninguém deve desresponsabilizar-se, nem ter responsabilidades acrescidas, estando desta forma, as responsabilidades e decisões repartidas entre todos, o que levará à tomada de decisões colectivamente.
Haverá momentos de tomada de decisões, em que terá que se decidir democráticamente, mediante voto e, eleita a decisão, todos do grupo deverão aceitá-la e respeitá-la, como se ela tivesse sido a sua escolhida, sendo que a decisão unânime será sempre a ideal e a melhor para o grupo.
A partir da experiência e sensibilidade de cada um, as funções a ser repartidas pelos intervenientes deverão integrar-se pelas inúmeras áreas de actuação, independentemente da ordem de importância que cada um lhe queira dar. Entre outras poderemos destacar:

  • Fazer o planeamento financeiro, comparando preços nas mais variadas áreas de importância sejam de ordem logistica ou de compra de bens de primeira necessidade, comida, medicamentos, entre outros;
  • Estabelecer esquemas de vigilância do equipamento e bens do grupo, principalmente à hora das tarefas intimas de cada um;
  • Estudar as melhores condições de hospedagem nos pontos diários de paragem, definindo-se também a hora diária de saída, bem como a responsabilização pelo despertar, que poderá funcionar de forma rotativa entre os membros do grupo;
  • Vigiar e orientar a melhor condição e recuperação fisica dos participantes, orientando a aquisição e o consumo da medicamentação, o tratamento de lesões e medidas preventivas, desde que não obriguem a cuidados especializados de saúde;
  • Estudar e planear os transportes dos participantes, caso surja a necessidade de evacuação pelos mais diversos motivos orientando quanto aos procedimentos e meios de transporte a ser utilizados;
  • Procurar informações sobre os locais e as condições dos serviços indispensáveis para o conforto do grupo, como seja lavagem de roupas, pontos de Internet, compras e outras actividades;
  • Determinação do ritmo da caminhada, de modo a que haja coesão entre os componentes para que o objectivo do dia seja cumprido no tempo planeado, definindo-se diariamente e de forma prévia os tempos de paragem no percurso, mesmo que depois tenham que haver rectificações ao planeado;
  • Escolha do tipo e das melhores condições de alimentação e restauração durante as etapas;
  • Destacar e estudar os pontos de interesse mais importantes das etapas , cuja paragem se justifique, efectuando-se recolha fotográfica desses locais, etc, etc...

Assim, dentro destas e de outras preocupações que devem ser préviamente acauteladas, a ideia será distribui-las dentro do grupo de forma equitativa, podendo contudo as mesmas ser acumuladas e ou repartidas por mais que um elemento do grupo, sendo que caberá sempre ao colectivo debater e decidir sobre a melhor solução, para cada uma delas.Devido ao facto de todas elas interagirem entre si, isso obrigará a um permanente diálogo entre os componentes do grupo, para proporcionar, em cada situação, uma posição comum ou muito semelhante, visando sempre que possível a unanimidade e o interesse do grupo. Como referi já anteriormente, a repartição dessas responsabilidades deverão ter em conta as aptidões de cada um, para que possam ser distribuídas em consonância com essas capacidades, vendo aquelas em que cada um melhor se enquadra.Para isso o grupo terá que se juntar para planear e decidir sobre essas situações que deverão ser acauteladas na fase de preparação do Caminho e posteriormente, durante o decurso do mesmo.O facto de se prevenirem este tipo de eventualidades, levará a que, sempre que elas surjam, sejam encontradas e postas a funcionar as melhores soluções para as ultrapassar.Independentemente de outras situações que possam ter ficado por dizer no que diz respeito a este projecto conjunto, parece-me que foram aqui abordados alguns dos aspectos mais importantes para que alcancemos com sucesso o nosso destino.Posteriormente e se houver necessidade de abordar mais algum aspecto deste Item que nos pareça relevante, voltaremos ao tema, até lá...

Ultreya et Suseya!

Texto: António Pimpão

Imagem: J.P.Valente

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Aqui e Agora, à volta com os preparativos!


Aqui e agora e o relógio não para, qual desígnio implacável rumo à partida inevitável que se acerca e avizinha de nós. É a adrenalina e o nervoso miudinho a subirem de intensidade a cada dia que passa, a cada página do calendário que se arranca! O mundo não para e nós também não, pelo que e antes de apresentarmos as etapas, faço, pela parte que me toca, um ponto de situação sobre os preparativos para o Caminho que, à medida que o tempo passa, se vão intensificando cada vez mais. EQUIPAMENTO: após algumas viagens à Decathlon e à SportZone, a coisa está muito bem composta em termos de relação preço qualidade, senão vejamos, uma mochila Forclaz Azul de 60 litros, peso 1,700 kg, 57,95 €, ou seja, mais barata, mais leve e com mais capacidade do que a Forclaz de 50 litros que pesa 2,200 kg e custa mais de 78 €. Um saco cama da Berg, leve (0,800 gramas) e muito cómodo, 29,90 €, ou seja, menos 10 euros que o seu congénere na Decathlon. 2 pares de calças de caminhada Forclaz 900 pretas por apenas 21,95 € cada par, quando normalmente custam 42,95 € cada, sorte do caraças! Ainda por cima eram os dois únicos pares disponíveis na Decathlon de Castelo Branco e assentaram-me que nem uma luva, nada mal mesmo! Botas de high trekking (grande caminhada) Forclaz 600 com sola vibram, membrana impermeável novadry e cano ajustado para protecção dos tornozelos, 69,70 €, muito bom preço comparativamente com o de outras botas congéneres! Uma sweat shirt de caminhada Forclaz 500 por 7,95 € quando normalmente custam 15,90 € e uma toalha de micro-fibras Kingcham cinza, muito leve, de secagem rápida, por 9,90 €, nada mau mesmo, tendo em conta o preço de outras para a mesma função! Resumindo e baralhando, como costuma dizer um amigo meu, e feitas as contas entre saldos e pesquisas cirúrgicas na Internet penso que consegui poupar alguns "europeus"! Apenas falta comprar as sandálias/chinelos e um fato impermeável outdoor, pois aquele que tenho é, de facto, muito bom, mas padece do principal mal a abater para o Caminho: excesso de peso! De equipamento por agora estamos falados, falaremos lá mais para a frente sobre a lista final. TREINO: entre participações em actividades organizadas e em caminhadas improvisadas, 3 a 4 vezes por semana a palmilhar trilhos e caminhos, condimentados com natação 2 vezes por semana. Se não for possível intensificar, pelo menos manter esta média até ao dia de todas as emoções já não seria nada mau! DOCUMENTAÇÃO: o cartão europeu de saúde já cá canta, as credenciais estão a caminho e os bilhetes para o autocarro da Eurolines até Bayonne estão reservados! A pouco mais de 1 mês e meio do inicio do Caminho Real Francês a coisa está tomar cada vez mais forma e não há volta dar-lhe!!!

Texto: Sérgio Cebola